sábado, 12 de janeiro de 2008

Uma ilha que nos deixa sonhar

Capri, Itália (Agosto, 2006)


A chegada a Capri, estonteados pela viagem de barco, é um momento que assalta o mais íntimo de cada um de nós. O sol atinge os visitantes atrás das colinas que formam a ilha, reflectindo-se na água límpida e transparente, cegando, como que por castigo pela ousadia de até ali chegar, quem se atreve a admirar directamente a sua beleza.

Á distância, a única coisa que se consegue decifrar é um misto de branco e verde à nossa frente, duas colinas perdidas no meio do mar, cada vez mais próximas. Os pontos brancos vão, progressiva e lentamente, tomando a forma de pequenas casas de praia, com os seus terraços no cimo, e caminhos ladrilhados à porta, cada um seguindo o rumo da enseada mais próxima. Tudo o resto em Capri é verde, das árvores, jardins floridos, ou humildes arbustos espalhados em todas as ruas.

O primeiro passo dado em Capri acompanha-nos para sempre. Não se esquece o momento em que os olhos, finalmente, encaram todos os pequenos pormenores que fazem desta ilha um dos expoentes máximos do orgulho italiano. Um chorrilho de emoções devasta-nos a alma, sentimos o choque violento que a ambiência deste local provoca numa primeira visita. Parece como se todas essas emoções nos fossem romper o peito, por ser, simplesmente, demasiada beleza para um vulgo ser Humano aguentar. Passear pelas ruelas da ilha, ao longo das duas vilas que a formam (Capri, perto da praia, e Anacapri, lá no alto do monte), por entre turistas atónitos, e reconhecendo nos outros a nossa própria perplexidade, invade-nos uma paz de espírito que há muito ansiamos, e que nenhum outro local neste planeta poderá transmitir. A simplicidade das casas contrasta com as lojas de alta-costura que as ocupam, as esplanadas recolhidas, em becos inalcançáveis, servem iguarias únicas, justificando a afluência de celebridades e realeza que assome a esta ilha desde a sua descoberta. Estes contrastes, ao invés de destoar num ambiente de simplicidade, nutrem a experiência de quem tem a oportunidade de os encarar, de uma harmonia impossível de reinventar através de simples palavras do nosso vocabulário. É algo que tem de ser vivido, sentido, um assomar duma perfeição que temos de abraçar e integrar em nós, consciencializando-nos que este local nunca nos irá deixar. Esta pequena ilha perdida na baía de Nápoles chamará sempre por nós, representará, todos os dias, o local de paz interior ao qual ansiamos regressar.

Se deixarmos Capri ao final do dia, a sua estonteante singularidade faz questão de nos relembrar do que estamos a deixar para trás. Enquanto a espuma deixada ao longo do caminho pelo barco se afasta cada vez mais do porto de Capri, a vontade de lá ter ficado dá lugar a um nó no peito, a paz sentida naquelas ruas transfere-se em nostalgia e alguma melancolia, que, penso, só nos abandonará no dia em que voltarmos a pisar o solo de Capri.


1 comentário:

Fábio Freitas disse...

Caríssima Sofia Vasconcelos.

É com enorme prazer que continuo a acompanhar o seu blog. Na minha opinião o título deste post não poderia ser o mais apropriado, sendo que, a própria foto deixa desde logo entender que a Sofia está a "deixar" essa ilha de sonho. O título completa-se quando, uma vez mais a Sofia toma a liberdade de descrever a razão pela qual optou por utilizar esta imagem no seu blog. Esse sonho começa a brotar a partir do momento em que leitor é surpreendido mais uma vez, pelas emocionadas, empolgantes e bem escolhidas, palavras desta blogger com tanto talento. Um talento "que nos deixa sonhar" de uma forma simples e sedutora, sonhar em acompanhar a viajem de Sofia Vasconcelos.

Com Carinho,
Fábio Freitas